terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Linguagem Capitalista = 02

Recebi um telefonema de uma entidade que empresta dinheirinho, a dizer que sim, posso receber 175.000,00€ para futura aquisição do T2 pelo qual me deixei apaixonar ontem.

Foi amor à primeira vista, do tipo: vi, escutei com muita atenção tudo aquilo que o vendedor tinha para dizer da beleza dos mosaicos aplicados nas paredes da cozinha, sem esquecer a forma magistral como classificou de divino, as rachas espalhadas pelo apartamento, sinal da elasticidade que este possui. Fiquei seriamente pensativo e um bocadinho de nada apreensivo, é verdade! Não que seja um expert nesta matéria, mas há sinais que a construção civil dá a conhecer, que devemos encarar com algum cepticismo e este foi um deles: rachas nas paredes. 

Compreende-se que o edifício dê de si neste período inicial de vida, no qual procura o melhor conforto para as sapatas onde está assente, mas será mesmo necessário espalhar por todo o empreendimento estas divinas rachas?

O discurso do vendedor foi prendado, houve uma aplicação de falta de bom senso brutal e igualmente dei conta que a sinceridade andou distante do T2 pelo qual me deixei apaixonar, mas caraças, se não tenho aplicações financeiras dignas do mais fantástico e sempre bem disposto colega de trabalho magrinho; os pais que deviam ter tido a coragem de vigarizar a sociedade capitalista a tempo de ganhar umas coroas, esses não tenho... fico antes insatisfeito com os pais que tiveram a burrice de perder vários euros ao contrair fantásticos empréstimos para aquisição de acções prestes a desvalorizar tanto... mas tanto, que ainda deram dinheiro a ganhar ao banco depois de realizarem outro empréstimo para pagar o tal primeiro empréstimo, aquele que no mínimo faria dos meus pais, 5.000,00€ mais ricos, afinal... foi prometido que seria assim; sem dinheiro ou garantias, sigo o caminho do facilitismo e sem medo ou pudor, e também sem apresentar a minha folhinha de rendimentos do ano transacto, porque tal não foi pedido... pumba, deixo-me possuir pelo crédito predatório!

E assim, com a tamanha da naturalidade prestada pela vigarice alheia, vou comprar o meu apartamento sem garantias de poder chegar ao 3º mês enquanto proprietário do mesmo.

Resta-me a alegria de ser como todos os outros, reféns dos Bancos e prisioneiros do sonho americano em terras Lusas!

Jonhy, quando deres conta que te fazem chegar à conta bancária dinheirinho fácil para a compra de uma casa, cuidado, lembra-te do crédito predatório!

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